segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A osteopatia como tratamento das disfunções viscerais

"(...) cabe salientar que o osteopata é capaz de melhorar a função visceral através das intervenções citadas. De maneira alguma substitui a função e avaliação de um médico, principalmente, quando uma patologia já se encontra instalada. Um bom profissional sabe diferenciar quando sua atuação se faz necessária e quando é imperativo que se encaminhe para o profissional adequado. É através de um atendimento multidisciplinar que se consegue a cura do paciente."




Na postagem anterior, mencionei que o tratamento osteopático se baseava em 3 vertentes (estrutural, visceral e craniana) mas que elas não podem nem devem ser desmembradas já que esta tríade compõe toda a abordagem osteopática quando se trata um paciente. Por essa razão, a osteopatia é considerada uma terapia holística já que através dessa visão, consegue-se visualizar o paciente como um todo e não como um mero sintoma. Portanto, desconfie quando um osteopata afirmar que só faz osteopatia estrutural fazendo questão de apenas estralar sua coluna. 
Feita esta introdução, escolhi um assunto para o artigo de hoje que nem sempre é conhecido por parte dos pacientes: a abordagem visceral da osteopatia. Seria possível tratar um quadro de gastrite, doença do refluxo gastro-esofágico ou síndrome do intestino irritável com a osteopatia? Na minha experiência e na de colegas, a resposta é sim. Mas para não ficar algo vago e soar apenas como propaganda, separei 3 artigos que atestam a minha afirmação e que serão apresentados na próxima postagem - o que ocorrerá nos próximos dias.
Antes de apresentar estes artigos, é importante destacar um dos principais componentes da função visceral: o sistema nervoso autônomo (SNA), responsável pelo controle de atividades das quais não somos capazes de controlar conscientemente. Portanto, quando nos assustamos e nosso coração dispara é o SNA que se ativa fazendo com que haja o aumento de nossa frequência cardíaca.
O SNA é dividido em simpático e parassimpático, sendo o primeiro associado a atividades que nos faz gastar energia, citando novamente o exemplo acima, assim como o aumento da pressão arterial e de nossa respiração. Está associado com o sistema de luta ou fuga. Quando nos encontramos em uma situação de perigo, o sistema simpático entra em ação nos preparando para entrar em combate ou fugir de algo potencialmente perigoso. Isso é bem comum acontecer em situações nas quais um animal caça um outro ou até quando nos deparamos com um animal perigoso. Já o sistema parassimpático é responsável pelo repouso e acúmulo de energia, portanto, este atua em nosso processo de digestão até a evacuação aumentando o peristaltismo dos órgãos e estimulando a secreção de substâncias que atuam na digestão como o suco gástrico e a bile. Em grande parte de nossas funções fisiológicas, o simpático e o parassimpático atuam em oposição ao outro.

Distribuição da inervação simpática de nossos órgãos.

Distribuição da inervação parassimpática de nossos órgãos.
Acontece que os nervos responsáveis por controlar essa ação inconsciente passam por estruturas nas quais um osteopata consegue atuar: as vértebras. Ao lado da coluna cervical, passando pela torácica e chegando na lombar passa uma estrutura chamada cadeia látero-vertebral onde estão localizados os gânglios simpáticos. Em cada nível da coluna, um conjunto destes gânglios é responsável pelo controle de vários órgãos. Por exemplo, e de forma bem resumida, dos segmentos T5 a T9 (quinta a nona porção da coluna torácica) saem o nervo esplâncnico torácico maior que é responsável pela inervação simpática de estômago, fígado, pâncreas e porção inicial de duodeno. É natural pensar que uma disfunção de algumas destas vértebras possa favorecer uma disfunção visceral já que a condução nervosa simpática estará prejudicada pela falta de mobilidade vertebral.

Esquema da inervação do estômago.

Já, em relação à inervação parassimpática, grande parte de nossos órgãos é suprida pelo nervo vago (o X par de nervo craniano) cujo trajeto de forma resumida se dá através da passagem pelo forame jugular (localizado na base de nosso crânio), bainha carotídea (região de pescoço), acessando o tórax pela entrada torácica. O nervo vago inerva todos os órgãos torácicos e abdominais com exceção da porção final de intestino grosso, bexiga, útero e genitais cuja inervação se dá pelos nervos esplâncnicos pélvicos localizados na porção sacral da coluna.
Existem ainda, o controle da salivação e de secreções lacrimais e nasais além do tamanho de nossas pupilas que é realizado por outros pares de nervos cranianos (controle parassimpático): III – nervo óculo-motor; VII – nervo facial e; IX – nervo glossofaríngeo; e pelo gânglio cervical superior e os 3 primeiros segmentos torácicos (controle simpático).

Esquema de inervação da pupila.


Disfunções no crânio, nas primeiras vértebras cervicais ou do sacro prejudicam a inervação parassimpática de nossos órgãos.
Quando qualquer de uma dessas inervações encontra-se prejudicada, pode ocorrer uma disfunção visceral gerando sintomas desagradáveis ao paciente, seja uma dor de estômago pelo excesso de suco gástrico ou má digestão e ânsia de vômito pela diminuição do tônus parassimpático ou até arritmias e falta de ar.
A partir do momento que se corrigem essas disfunções devolvendo à normalidade a inervação autônoma do órgão em sofrimento, é possível realizar técnicas específicas viscerais. Porém, deve-se destacar que o diafragma exerce papel importante na função visceral. Como já destacado no post sobre o diafragma, este músculo também tem influência em nosso controle postural sendo, então, um ponto-chave para os tratamentos osteopáticos. Para não me estender muito nesta postagem, fica aqui a promessa de aprofundar mais em um artigo futuro sobre a influência do diafragma em nossos órgãos.

Relação do diafragma do coração. Em destaque na seta azul, o ligamento frênico-pericárdico que liga o diafragma ao pericárdio fibroso.

Nas técnicas viscerais, o osteopata é capaz de atuar direta ou indiretamente no órgão realizando técnicas oscilatórias, vibratórias, de pressão e/ou de descompressão, melhorando a sua circulação ou seu posicionamento através da intervenção sobre um tecido chamado fáscia. Este tecido localizado em todo nosso corpo é responsável por envolver e separar nossos ossos, músculos e vísceras. Tem também uma função protetora: por exemplo, o omento maior uma dobra do peritônio que recobre todo o nosso intestino tem "a capacidade de bloquear processos inflamatórios intra-abdominais, devido a riqueza de suas células mesoteliais, de sua mobilidade e de sua propriedade absortiva" (Greca et al., 1998).

Por último, cabe salientar que o osteopata é capaz de melhorar a função visceral através das intervenções citadas. De maneira alguma substitui a função e avaliação de um médico, principalmente, quando uma patologia já se encontra instalada. Um bom profissional sabe diferenciar quando sua atuação se faz necessária e quando é imperativo que se encaminhe para o profissional adequado. É através de um atendimento multidisciplinar que se consegue a cura do paciente.
Continuem ligados no blog e comentem! Fiquem à vontade para criticar ou elogiar e sugerir temas para o blog.
Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Maria Regina Amoroso Borges28 de outubro de 2013 às 22:00

    Rodolfo adorei o artigo. Por isso que melhorei bem meu refluxo. Inclusive minha ATM. tem melhorado bastante. Continua sendo esse profissional sério e competente.

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