quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Estudos sobre os efeitos da osteopatia visceral - Parte I

Como destacado no post anterior, mencionei o fato de o osteopata conseguir interagir com o sistema nervoso autônomo através das manipulações vertebrais haja vista que a cadeia látero-vertebral (onde estão os gânglios simpáticos) está próxima às vértebras. Sendo assim, apresento um estudo de Bolton e Budgell (2012) no qual os autores fazem um levantamento de artigos que relatam a influência das manipulações vertebrais nas funções cardíacas, pulmonares, gastro-intestinais e ginécológicas.


Antes de apresentá-lo, vale relembrar a anatomia de toda a cadeia simpática:

Distribuição simpática da inervação de nossos órgãos

Como é possível visualizar, cada segmento vertebral é responsável pela inervação simpática de um ou vários órgãos. O coração é inervado pelas regiões cervical e torácica; os pulmões, estômago, fígado, pâncreas, duodeno, baço, rins e glândulas supra-renais pela torácica; intestinos grosso e o restante do delgado e genitais são inervados pelo segmento lombar da coluna vertebral. Sendo assim, é natural pensar que uma disfunção em qualquer região vertebral possa ocasionar um problema na função visceral. Essa é uma das vertentes do atendimento de um paciente com uma queixa visceral. E esse foi o objetivo do estudo de Bolton e Budgell: fazer um levantamento de estudos que comprovassem a eficácia das manipulações vertebrais na função visceral.

Respostas viscerais à manipulação vertebral


O primeiro levantamento foi sobre a função cardíaca. Dezoito artigos foram pesquisados nos quais foram avaliados os parâmetros de frequência cardíaca (FC), pressão arterial (PA) e variabilidade da FC. Porém, só se destacaram os estudos que avaliaram a variação da pressão sanguínea pois em muitos estudos, a metodologia se mostrou equivocada.
Em um dos estudos (FUJIMOTO et al. 1999) em que eram comparadas várias técnicas manuais (manipulações, mobilizações e pressões musculares na região cervical), as manipulações se mostraram mais efetivas em diminuir a pressão arterial.
Em outro estudo (PASTELLIDES, 2009) no qual a PA foi acompanhada durante 4 dias consecutivos e mensuradas no pré-tratamento e também 5, 15 e 30 minutos depois do tratamento, foi comprovado que a PA diminuiu significativamente em resposta às manipulações das regiões cervical e torácica. 
Os autores ainda destacam que apesar do número pequeno de artigos pesquisados, houve evidências que mostram que manipulações cervicais e torácicas foram capazes de modular uma resposta autonômica para o coração.

No levantamento sobre a função pulmonar, apenas 3 artigos satisfizeram o critério de inclusão dos autores. E mesmo assim, os 3 ainda apresentaram problemas metodológicos. Um deles (McGUINESS et al. 1997) mostrou aumento da frequência respiratória (FR) após mobilizações cervicais, porém, não foram apresentadas as FR antes e depois da técnica. No estudo de Kessinger (1997), no decorrer de 2 semanas, os pacientes apresentaram aumentos de 6% na capacidade vital forçada (volume máximo de ar exalado ou expirado com esforço máximo, a partir do ponto de máxima inspiração) e de 5% no volume expiratório forçado (representa o volume de ar exalado num tempo especificado durante a manobra de capacidade vital forçada) após manipulações da cervical alta (C1 e C2). Porém, não foi incluído um grupo controle nesse estudo.

Quanto ao levantamento acerca da função gastro-intestinal, apesar do grande interesse por parte dos osteopatas, não há estudos que pesquisem a alteração da fisiologia deste sistema associada às manipulações vertebrais. O que abre um campo interessante para a pesquisa nessa área.


O mesmo ocorre com a função ginecológica. Foi localizado apenas um estudo de Nogueira de Almeida et al. (2010) que examinou o efeito da manipulação de sacro no tônus da musculatura perineal intravaginal. Houve aumento do tônus após a técnica.  Faltam estudos que ajudem a entender a real função da manipulação lombar e sacral na fisiologia ginecológica.

Como pode-se destacar no título desta postagem, esta é a primeira parte de três artigos que serão escritos. No próximo post, será abordado um estudo que avalia a eficácia da osteopatia na síndrome do intestino irritável. Fiquem ligados!
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