segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Estudos sobre o efeito da osteopatia visceral - Parte III

"Corrêa et al. descobriram que houve um aumento de 9 a 27% da pressão do esfíncter esofágico inferior nos indivíduos que foram submetidos à técnica osteopática enquanto que nas pessoas do grupo placebo houve diminuição dessa pressão - destacando que quanto maior a pressão do esfíncter menores são as chances do conteúdo do estômago retornar ao esôfago."


Finalizando a série de 3 artigos falando sobre a osteopatia visceral, hoje será abordado sobre como o osteopata pode ajudar pacientes com a Doença do Refluxo Gastroesofágico ou com sintomas de pirose (azia). O artigo que mencionarei mostra na verdade o tratamento indireto desse problema. A intervenção sobre o diafragma não pode ser considerada, de certa forma, como uma técnica visceral mas é importante frisar a importância que ele tem na maioria de nossas vísceras. 
Na minha primeira postagem no blog, fiz uma descrição anatômica do diafragma e dentre as estruturas descritas, mencionei o hiato esofágico que é uma abertura no diafragma para a passagem do esôfago para chegar até o estômago.

Vista inferior do diafragma. Notem no centro da estrutura o hiato esofágico.


O esôfago se fixa ao diafragma através do ligamento frenicoesofágico. A musculatura diafragmática que está em volta ao hiato esofágico funciona como um portão, liberando a passagem do alimento do esôfago para o estômago e também impedindo-o que retorne ao estômago. Este "portão" é conhecido como esfíncter esofágico inferior.

Destaque das estruturas anatômicas descritas acima. Observe o ligamento frenicoesofágico à direita inferiormente.


Pois bem, se o diafragma não apresenta uma boa função, este esfíncter pode se relaxar e parte do conteúdo gástrico retorna ao esôfago causando o fenômeno chamado refluxo ácido. Acontece que vez ou outra é normal que algo do estômago reflua para o esôfago. O problema é quando isto se cronifica, produzindo sintomas que indicam a existência de lesões teciduais no esôfago. É a chamada Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).
Alguns sintomas comuns da DRGE são:
  • pirose ou azia
  • dor torácica
  • dificuldade para engolir
  • sensação de algo na garganta
Percebeu alguma familiaridade nesses sintomas? Talvez, você possa ter essa patologia. Importante, frisar que eles são parecidos com queixas de ataque cardíaco e podem muito bem ser confundidos. Outros sintomas menos comuns podem incluir rouquidão, tosse, dor de garganta etc. A DRGE pode acometer tanto adultos quanto crianças. Nestas, é importante observar tosses forçadas frequentes e vômitos acompanhados por irritabilidade.
Fiz toda essa introdução para os mais leigos não ficarem tão perdidos. Vamos agora ao artigo escrito pelo colega e professor da Escuela de Osteopatía de Madrid Internacional, Rafael Corrêa.



Neste estudo, ele e seus colaboradores investigaram se haveria alguma diferença de pressão do esfíncter esofágico inferior após a técnica de stretching do diafragma.
Vinte e duas pessoas foram colocadas no grupo O de intervenção no qual seria realizada a técnica de stretching do diafragma e 16 no grupo P (placebo) sendo realizada uma técnica simulada. A técnica de stretching consistia na realização de 8 respirações profundas pelo paciente - que se encontrava deitado na maca com os membros inferiores flexionados e pés apoiados - enquanto o terapeuta posicionava suas mãos na borda inferior das últimas costelas. A manobra era realizada em duas fases: nas primeiras 4 respirações, o terapeuta exacerbava manualmente os movimentos respiratórios das costelas e enquanto que nos 4 últimos movimentos respiratórios, durante a fase expiratória, o terapeuta sustentava as costelas impedindo a descida das costelas.
Já a técnica simulada consistia em apenas deixar contato manual no osso esterno e no abdome do paciente enquanto o paciente fazia as mesmas 8 respirações.
Corrêa et al. descobriram que houve um aumento de 9 a 27% da pressão do esfíncter esofágico inferior nos indivíduos que foram submetidos à técnica osteopática enquanto que nas pessoas do grupo placebo houve diminuição dessa pressão - destacando que quanto maior a pressão do esfíncter menores são as chances do conteúdo do estômago retornar ao esôfago. Os pesquisadores ainda destacaram que apesar de ter sido realizada apenas uma técnica ao invés de um tratamento completo para a patologia, os resultados obtidos são de extrema relevância mostrando que a osteopatia pode conseguir resultados fantásticos no tratamento da DRGE.
Infelizmente, é bem comum encontrar pessoas que se tornam escravas de medicamentos inibidores de bombas de prótons como o omeprazol ou anti-ácidos como o Mylanta plus. Hoje se sabe que na maioria dos casos, um ajuste feito na dieta e nos hábitos de vida cotidiana já contribuem imensamente para a diminuição dos sintomas. E os achados deste estudo também dão base para uma outra linha de tratamento através da osteopatia. Obviamente, nem todos os casos poderão ser resolvidos dessa forma (apesar da vontade de qualquer osteopata) sendo que alguns têm sim, indicação cirúrgica. Por isso mesmo, o profissional da saúde deve ter discernimento de quando o caso está a seu alcance e quando este deve ser encaminhado para um médico.
Com este parágrafo, encerro a série de 3 partes sobre a osteopatia visceral. Espero que tenham gostado do assunto e ajudado de alguma forma. Quer sugerir algum tema para o blog? Comente ou me escreva. E não se esqueça de curtir minha página no facebook para receber as atualizações do blog (na coluna ao lado ou neste link).
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